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3 pontos fundamentais sobre Dinâmica do Tempo, uma técnica histórico-cultural

Já conhece a dinâmica do tempo? Vem com a gente para compreender mais sobre esse instrumento da clínica histórico cultural.

A trajetória humana como um enredo complexo

Vigotski, ao refletir sobre a obra “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, sugere que o desenvolvimento humano se assemelha a uma trama teatral: ambientada em cenários específicos, povoada por diferentes personagens e permeada por emoções e pensamentos que, entrelaçados, compõem uma narrativa singular e irrepetível.

Dentro dessa trama pessoal, inúmeros episódios deixam marcas profundas e contribuem para a formação da personalidade. Contudo, em certos momentos, a complexidade desses acontecimentos pode gerar confusão, dificultando que a pessoa reconheça os eventos determinantes que a conduziram ao momento presente.

Diante desse desafio, a psicoterapia histórico-cultural dispõe da técnica conhecida como Dinâmica do Tempo, um recurso elaborado para auxiliar na compreensão de como o paciente se relaciona com sua própria história. É sobre essa ferramenta que trataremos a seguir.

O que é a Dinâmica do Tempo?

Essa técnica foi idealizada pela professora Dra. Ana Ignez Belém, fruto de suas investigações realizadas no Laboratório de Estudos da Subjetividade e da Saúde Mental (LADES), da Universidade Estadual do Ceará. Sua proposta central é favorecer a escuta da narrativa pessoal do paciente, identificando os eventos que, em sua perspectiva, foram determinantes ao longo de sua trajetória.

Por meio dessa abordagem, torna-se possível compreender de que maneira o indivíduo se posiciona em relação à sua própria história, reconhecendo os episódios que ganharam maior relevância para a construção de sua subjetividade.

Importa salientar que essa intervenção se ancora no conceito de desenvolvimento elaborado por Vigotski, segundo o qual toda demanda clínica possui uma gênese — um percurso que precisa ser conhecido para que o processo terapêutico avance de forma consistente.

Ao aplicar a técnica, o terapeuta consegue estabelecer relações entre diferentes elementos do percurso do paciente, inclusive aqueles que podem ter contribuído para processos de sofrimento psíquico. Parte-se do pressuposto de que a personalidade não é estática, mas sim dinâmica, sendo a Dinâmica do Tempo um instrumento que potencializa o autoconhecimento e amplia o campo da consciência sobre si.

Como aplicar a técnica na prática clínica?

O procedimento consiste em solicitar que a pessoa organize, em uma folha de papel, os eventos marcantes de sua vida — sejam eles positivos ou negativos. Não há uma forma única para esse registro: ele pode ser realizado por meio de datas, palavras, desenhos, esquemas ou até mesmo um texto corrido.

O processo de recordar acontecimentos, situá-los temporalmente, atribuir-lhes significados e identificar as emoções associadas a cada experiência, favorece a simbolização das vivências. Trata-se, portanto, de uma estratégia que convida o paciente a revisitar sua trajetória de maneira reflexiva e estruturada.

Por ser uma ferramenta que permite mapear diferentes nuances da vida, a técnica pode ser empregada em variados contextos clínicos — desde quadros de ansiedade, transtornos de humor e de personalidade até situações relacionadas a vivências traumáticas, como a violência sexual.

Assim, é imprescindível que a utilização desse recurso seja feita de maneira cuidadosa, intencional e contextualizada, sempre visando contribuir para o processo terapêutico e favorecer a construção de uma percepção mais integrada da própria história, das relações estabelecidas e do sofrimento vivenciado.

Revisitar, compreender e reconstruir a trajetória pessoal

A Dinâmica do Tempo constitui um recurso valioso na clínica histórico-cultural, pois reforça a importância atribuída por Vigotski à dimensão histórica do desenvolvimento. Entender o percurso de vida é essencial para apreender a complexidade que habita cada sujeito.

Por meio dessa técnica, o terapeuta propõe ao paciente uma mobilização importante: revisitar, reinterpretar e, muitas vezes, ressignificar os episódios que compõem sua história, promovendo novas possibilidades de compreensão e transformação.

Sugestões de leitura para aprofundamento

1) Livro: A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca (Vigotski)

2) Artigo: Subjetividade e Constituição do Sujeito na Clínica Histórico-Cultural de L. S. Vigotski (Neto Oliveira e Ana Ignez Belém)

3) Livro: A práxis na Psicologia clínica Histórico-Cultural: discutindo casos (Ana Ignez Belém e Neto Oliveira)

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O Instituto Veresk é um coletivo de psicólogos histórico-culturais apaixonados pela teoria de Vigotski na clínica, composto por Neto Oliveira (Diretor Geral), Brenna Santos (Coordenadora Pedagógica) e Mylene Freitas (Coordenadora de Marketing). Contamos ainda com a referência e consultoria da Prof. Dra. Ana Ignez Belém Lima, precursora da Psicologia Clínica Histórico-Cultural no Brasil.

Para mais informações, confira a página “Sobre Nós” no menu de navegação.

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