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Frases Mediadoras: uma ferramenta prática na Clínica Histórico-Cultural

O que são frases mediadoras?

Você já se perguntou como a Psicologia Histórico-Cultural atua, na prática, dentro dos atendimentos clínicos? Entre tantas dúvidas de quem se interessa por essa abordagem, uma das mais comuns é: “Quais são, afinal, as ferramentas e estratégias que o psicólogo histórico-cultural pode usar?”

Hoje, vamos apresentar uma dessas ferramentas — as Frases Mediadoras. Uma técnica desenvolvida a partir dos princípios da teoria vigotskiana, que pode fazer uma enorme diferença na vida de quem busca ajuda psicológica na perspectiva histórico-cultural.

Se ficou curioso, vem entender como ela funciona e de que forma pode transformar o desenvolvimento dos seus pacientes.

De onde surgiu essa estratégia?

Nenhuma técnica nasce do nada. Na Psicologia Histórico-Cultural, prática e teoria caminham juntas. É da teoria que nasce uma atuação clínica ética, potente e comprometida com o desenvolvimento humano.

Foi exatamente assim que surgiram as Frases Mediadoras, um recurso criado pelo prof. Neto Belém Oliveira, Diretor do Instituto Veresk, a partir dos estudos sobre as funções psicológicas superiores e o processo de internalização do desenvolvimento.


Por que elas fazem sentido na PHC?

Para entender essa técnica, é preciso mergulhar em três pilares fundamentais da teoria histórico-cultural. Vamos a eles:

1. A relação entre pensamento e linguagem e o domínio da conduta

Vigotski nos ensinou que não nascemos prontos: nos tornamos humanos a partir do desenvolvimento das funções psicológicas superiores. São essas funções que tornam possível algo muito específico da nossa espécie — agir de forma consciente, intencional e mediada.

E quem são os protagonistas desse processo? Linguagem e pensamento. Através deles, não apenas nos comunicamos, mas também aprendemos a regular nosso próprio comportamento, planejar ações e tomar decisões.

Na prática clínica, isso significa que, ao fortalecer o pensamento e a linguagem, ajudamos nossos pacientes a desenvolver aquilo que Vigotski chamou de autodomínio 

da conduta — ou seja, mais clareza, menos impulsividade e maior capacidade de tomar decisões alinhadas aos próprios objetivos.

2. Somos mediados o tempo todo

O ser humano não se relaciona diretamente com o mundo, e sim através de mediações: objetos, ferramentas, palavras, símbolos, cultura.

 Um simples exemplo: quando você digita no seu computador, é o teclado que faz a ponte entre seus pensamentos e o texto que aparece na tela.

Na Psicologia Histórico-Cultural, mediação é tudo. O psicólogo é alguém que introduz novas ferramentas simbólicas (palavras, conceitos, reflexões) para ajudar o paciente a reorganizar seu modo de pensar, sentir e agir.

3. O que é de fora, vira de dentro e vice-versa

Se existe um princípio central na teoria vigotskiana, é este: o desenvolvimento acontece primeiro no social, depois se torna interno.

A criança aprende a falar dialogando. Só depois, essa fala vira pensamento.

Na clínica, isso significa que tudo aquilo que construímos no diálogo terapêutico — reflexões, conceitos, sentidos — pode ser internalizado e se transformar em recursos psíquicos para a vida do paciente.

Frases Mediadoras: o que são, na prática?

Imagine que você pudesse entregar ao seu paciente uma espécie de “mapa mental” para ajudá-lo a navegar por situações difíceis. É exatamente esse o papel das Frases Mediadoras.

São expressões elaboradas no contexto da terapia, que funcionam como lembretes simbólicos capazes de ativar pensamentos mais organizados, saudáveis e conscientes quando o paciente se depara com desafios.

Elas são, na prática, instrumentos psicológicos portáteis, que o paciente leva consigo — seja na memória, anotadas no celular, na carteira ou no caderno.

Vamos a um Caso Ilustrativo?

Pense na Ana (nome fictício). Ela vive se culpando por não ser produtiva o suficiente. Sempre que tenta descansar, sua mente dispara:

  • “Eu devia estar produzindo mais.”
  • “Se eu descanso, é porque sou preguiçosa.”

Resultado: ansiedade, culpa, queda de autoestima e até episódios depressivos.

No processo terapêutico, Ana já entendeu as raízes culturais desse sofrimento — especialmente o quanto o capitalismo molda nossas relações com trabalho, descanso e valor pessoal. Mas… entender nem sempre basta.

Ela relata: “Eu sei que é o sistema, sei que não sou preguiçosa, mas quando o pensamento vem, eu me sinto mal do mesmo jeito.”

Aplicando as Frases Mediadoras

A psicóloga histórico-cultural, então, propõe a construção conjunta de frases que possam ser usadas como suporte nos momentos críticos.

Elas funcionam como gatilhos conscientes para interromper o fluxo automático dos pensamentos autodepreciativos e reconectar Ana com as reflexões construídas na terapia.

✨ Algumas das frases que surgem desse processo:

  • “Descansar é cuidar de mim. Não sou uma máquina.”
  • “Essa cobrança vem de uma lógica que eu não aceito mais para minha vida.”
  • “Meu tempo não define meu valor.”

Quando Ana lê, repete ou mentaliza essas frases, ela está, na prática, utilizando um instrumento psicológico cultural que medeia seu comportamento e reduz o impacto dos pensamentos disfuncionais.

Por que funciona?

Funciona porque a mente humana é, antes de tudo, cultural e simbólica. Se aprendemos padrões de pensamento que nos adoecem, também podemos aprender formas de pensar que nos ajudam a viver melhor.

As Frases Mediadoras são uma ponte entre aquilo que é construído no espaço da terapia e os desafios do cotidiano.

Finalizando: um recurso simples, mas poderoso

Se usadas com critério, reflexão e alinhamento teórico, as Frases Mediadoras podem ser uma ferramenta incrível na clínica histórico-cultural.

Elas não substituem o processo terapêutico, nem são uma fórmula mágica. Mas, quando construídas de forma colaborativa, se tornam uma forma concreta de ajudar o paciente a internalizar mudanças e desenvolver mais autonomia psíquica.

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O Instituto Veresk é um coletivo de psicólogos histórico-culturais apaixonados pela teoria de Vigotski na clínica, composto por Neto Oliveira (Diretor Geral), Brenna Santos (Coordenadora Pedagógica) e Mylene Freitas (Coordenadora de Marketing). Contamos ainda com a referência e consultoria da Prof. Dra. Ana Ignez Belém Lima, precursora da Psicologia Clínica Histórico-Cultural no Brasil.

Para mais informações, confira a página “Sobre Nós” no menu de navegação.

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