Hoje nós vamos entender a história de como as coisas começaram e os caminhos que têm tomado
Se há um aspecto do qual psicólogas e psicólogos histórico-culturais não podem abrir mão ao se aproximarem dessa teoria transformadora, esse aspecto é a história! A ideia de história é tão importante na Psicologia Histórico-Cultural, que Vigotski, no livro Estudos sobre a histórias do comportamento, chegou a dizer que o comportamento humano só pode ser entendido como história do comportamento.
E, em se tratando de história, não podemos negligenciar as raízes da discussão sobre clínica histórico-cultural no Brasil, afinal, compreender como os estudos sobre psicologia clínica histórico-cultural começaram nos dá a possibilidade de construir novos caminhos de pesquisa, investigação e reflexão. Além disso, negar a história é uma conduta que se identifica com o obscurantismo, o fascismo e o bolsonarismo, e não há espaço para isso entre nós psicólogos marxistas e histórico-culturais.
A história não é linear e deve ser analisada de forma dialética
Nós do Veresk gostamos sempre de pensar que a clínica histórico-cultural tem sido construída por muitos braços, cada um deles com um papel importante para os estudos na área, sendo alguns deles organizados em laboratórios de pesquisa de universidades públicas e particulares no país e outros deles expressos em iniciativas individuais.
É importante lembrar que, como essa história também é dialética, esses esforços de pesquisa e debate foram acontecendo basicamente ao mesmo tempo, alguns com maior rigor metodológico e outros a partir de necessidades mais pessoais de discussão sobre o tema. Mas uma coisa unia todos esses esforços: a vontade de ver a Teoria Histórico-Cultural atualizada para o campo da clínica.
Os primeiros debates no início dos anos 2000
No início dos anos 2000, já encontramos grupos de trabalho e pesquisa fortalecidos na Psicologia Histórico-Cultural, realizando debates sobretudo nos campos da Psicologia Social e da Psicologia Educacional e Escolar, com temas como identidade, vulnerabilidade social, desenvolvimento das funções superiores, dentre outros que inicialmente introduziram os conceitos centrais da Psicologia Histórico-Cultural para psicólogas(os) e estudantes de psicologia interessados na teoria de Vigotski.
Algumas contribuições importantes para a área:
- González-Rey e a Teoria da Subjetividade
- O IPAF e a Psicologia Sócio-Histórica na clínica
- Os ensaios livres do prof. Achilles Delari Jr
Cada um desses autores e grupos discutiram pontos importantes da teoria de Vigotski na clínica. O prof. González-Rey, por exemplo, escreve sobre como a psicologia histórico-cultural modifica o paradigma da subjetividade e os impactos desse olhar para o trabalho com os fenômenos clínicos.
Enquanto isso, colegas do IPAF, apoiados em perspectivas teóricas diversas, aproximavam a teoria de Vigotski da clínica, realizando também cursos de formação na área. Por fim, Delari Jr, em seu blog, escrevia sobre psicologia histórico-cultural, seus conceitos e seus significados para uma possível psicologia clínica, mas não muito clara ainda na época.
Apesar de suas necessárias contribuições, tais estudos careciam ora de rigor metodológico, ora de aprofundamento na psicologia histórico-cultural sem necessitar recorrer a conceitos e categorias de autores não histórico-culturais, caso de alguns estudos que trouxeram a pedagoga montessoriana Rita Mendes Leal como referência de debate para a clínica fundamentada em Vigotski.
O pioneirismo da profa. Ana Ignez Belém Lima
Como dissemos, a história é dialética e precisa ser vista de outros ângulos. Também já no início dos anos 2000, a prof. Ana Ignez Belém Lima, após duas décadas de estudo sobre a psicologia soviética, passa a desenvolver pesquisas e atividades articuladas à clínica na perspectiva histórico-cultural, desde pesquisas no Laboratório de Estudos da Subjetividade e Saúde Mental (LADES) na Universidade Estadual do Ceará (UECE) até atendimentos clínicos na perspectiva histórico-cultural ofertados à comunidade no entorno da universidade, muitas dessas pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Assim, a querida professora instituiu estágios clínicos na abordagem histórico-cultural, os quais se tornaram um contraponto às teorias hegemônicas e burguesas tão conhecidas e disseminadas nos serviços de psicologia da universidade pública. De lá para cá, já são 17 anos realizando um sério trabalho sobre psicologia clínica histórico-cultural, o qual envolve ensino, pesquisa e prática na abordagem histórico-cultural. Atualmente, a prof. Ana Ignez ainda coordena o mesmo laboratório e está desenvolvendo uma pesquisa que resgata os resultados de mais de 10 anos de atendimento em clínica histórico-cultural no Serviço de Psicologia Aplicada do curso de Psicologia da UECE.
A Psicologia clínica Histórico-Cultural na Universidade Estadual do Ceará
Hoje, o cenário é outro e temos o exemplo da Universidade Estadual do Ceará na implementação da Psicologia Histórico-Cultural como um sistema teórico complexo e completo, como sempre defendemos em nossos textos, palestras, aulas e eventos.
Sob supervisão e orientação da profa. dra. Ana Ignez Belém, o Curso de Psicologia da UECE conta com disciplinas específicas sobre o tema, como:
- Sistemas e Teorias – Psicologia Histórico-Cultural
- Teorias e Técnicas Psicoterápicas (TTP) em Psicologia Histórico-Cultural
- Psicopatologia Histórico-Cultural (Patopsicologia)
- Estágios clínicos supervisionados
Não é um trabalho incrível?
O trabalho da nossa querida profa. Ana Ignez, entretanto, tem reverberado para fora das paredes da universidade pública, com a organização de turmas de especialização presenciais aqui no Ceará em 2017 e 2018, bem como no lançamento da 3º turma de Pós em Psicologia clínica Histórico-Cultural do Instituto Veresk, do qual ela é consultora e também professora!
Além disso, ela organizou todos os livros sobre psicologia clínica histórico-cultural que temos hoje no Brasil, são eles:
- Cartas para Vigotski: ensaios em psicologia clínica
- Práxis na clínica histórico-cultural: por uma clínica da transformação e do desenvolvimento
- A práxis na psicologia clínica histórico-cultural: discutindo casos clínicos, este aqui acabou de sair do forno e você já pode adquirir
A história precisa ser lembrada e celebrada, caso contrário incorreremos no erro da burguesia e nas suas intenções de apagamento sistemático dos nossos passos, perdendo o rumo e a direção de por onde podemos seguir
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O Instituto Veresk é um coletivo de psicólogos histórico-culturais apaixonados pela teoria de Vigotski na clínica, composto por Neto Oliveira (Diretor Geral), Brenna Santos (Coordenadora Pedagógica) e Mylene Freitas (Coordenadora de Marketing). Contamos ainda com a referência e consultoria da Prof. Dra. Ana Ignez Belém Lima, precursora da Psicologia Clínica Histórico-Cultural no Brasil.
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