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O desenvolvimento psicológico de minorias sociais na Psicologia Histórico-Cultural

Para abrir a conversa, entre o pessoal e o social

Falar sobre desenvolvimento psicológico humano exige mais do que observar estágios individuais de crescimento. É preciso considerar os atravessamentos históricos, sociais e culturais que moldam o sujeito desde a infância. Dentro da abordagem da Psicologia Histórico-Cultural, o ser humano é visto como um produto em constante construção, não apenas passivo frente ao meio, mas também agente transformador da realidade social.

Cada pessoa, ao interagir com os signos e instrumentos que compõem a cultura, não apenas os absorve, mas os ressignifica. Esse movimento dialético entre sujeito e mundo permite a emergência de sentidos singulares — um processo inevitavelmente atravessado pelas desigualdades sociais.

Normas sociais e o peso da diferença

Vivemos em uma sociedade regida por normas implícitas — muitas vezes camufladas sob o véu da “naturalidade”. Essas normas ditam o que é considerado legítimo, normal ou aceitável, ao passo que tudo aquilo que destoa dessas convenções acaba sendo empurrado para as margens.

Grupos que se afastam dessas referências normativas — como pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, pessoas com deficiência ou adeptas de religiões de matriz africana — carregam o fardo de identidades constantemente postas em xeque. Seus modos de existir são, muitas vezes, mediados por olhares que negam, distorcem ou invisibilizam suas vivências.

A hegemonia branca, cristã, cis-heteronormativa e capitalista cria um filtro por onde as subjetividades das minorias passam — mas raramente saem ilesas. Essa mediação simbólica carrega julgamentos e expectativas que atuam diretamente na constituição psíquica dessas pessoas.

Subjetividades forjadas em contextos adversos

Na perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, o desenvolvimento humano se dá sempre em um contexto relacional. É nas trocas sociais, nas interações cotidianas e nos significados atribuídos ao que vivemos que nos tornamos sujeitos.

Quando essas interações são marcadas por exclusão, violência simbólica ou direta, e estigmatização, os efeitos não se restringem ao social — reverberam na construção interna de si. Um jovem negro que cresce sendo constantemente vigiado, desacreditado ou temido, por exemplo, pode internalizar a crença de que representa uma ameaça ou de que 

não pertence a determinados espaços. Essa internalização fragiliza o autoconceito, empobrece os afetos e limita a capacidade de sonhar com um futuro diferente.

Vale ressaltar que a presença de opressões sociais no processo de desenvolvimento não determina, por si só, a emergência de sofrimento psíquico clínico. Mas essas vivências são, inegavelmente, matéria-prima da subjetividade e não podem ser ignoradas.

Por que essa discussão importa?

A Psicologia Histórico-Cultural oferece ferramentas valiosas para compreender as marcas sociais no mundo psíquico. Ela nos permite analisar como as estruturas de poder se infiltram nas relações, nos afetos e na própria noção de personalidade.

Ao estudar o papel da mediação cultural e da internalização dos signos sociais, conseguimos perceber como as minorias sociais enfrentam obstáculos que não são apenas materiais, mas simbólicos. A luta, portanto, não é apenas por acesso a direitos, mas também por reconhecimento e legitimação da própria existência.

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Leitura complementar sobre desenvolvimento psicológico de minorias para ampliar o debate:

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O Instituto Veresk é um coletivo de psicólogos histórico-culturais apaixonados pela teoria de Vigotski na clínica, composto por Neto Oliveira (Diretor Geral), Brenna Santos (Coordenadora Pedagógica) e Mylene Freitas (Coordenadora de Marketing). Contamos ainda com a referência e consultoria da Prof. Dra. Ana Ignez Belém Lima, precursora da Psicologia Clínica Histórico-Cultural no Brasil.

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